_BOLETIM TEKOÁ KUERY

ENCONTRO NACIONAL DE MULHERES INDÍGENAS ALDEIA SAPUKAI -  ANGRA DOS REIS/RJ
19 mulheres indigenas do litoral sul

19 mulheres indígenas do litoral sul

Aconteceu entre os dias 25 e 29 de novembro de 2021, o encontro nacional das mulheres Guarani na aldeia Sapukai, em Angra dos Reis/RJ. De acordo com a matéria publicada nas redes sociais pela Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), organização da luta pelo território administrada por lideranças Guarani do Sul e Sudeste do Brasil, o evento contou com mais de 250 mulheres do sul, sudeste e centro-oeste. 

Entre as mais de 250 mulheres participantes estava a Eliana Macena, liderança na Tekoá Paranapuã, localizada no estado de São Paulo no município de  São Vicente. Eliana nos conta que dentre os temas debatidos no encontro um dos mais discutidos entre as mulheres foi sobre os artesanatos tradicionais.

O artesanato faz parte da tradição indígena Guarani Mbya e tem um grande valor cultural na transmissão de conhecimento dos mais velhos para os mais jovens, sendo uma das expressões artísticas e espirituais dos Guarani. A conexão com as técnicas ancestrais por meio dos significados nas representações de grafismos e cores dos artesanatos é uma forma de manter a cultura Mbyá viva. O artesanato também é uma forma de resistência da cultura Guarani, podendo fomentar a economia e renda local a partir da venda de seus produtos.

Nos diálogos entre as mulheres comentou-se sobre os artesanatos que não estão sendo mais produzidos nas aldeias ou que pouco se produz atualmente, Eliana cita alguns exemplos: “o pratinho que era usado antigamente era de cabaça, cortado ao meio e era também usado para tomar água ou trazer água […], só tem alguns Xejary que ainda fazem, mas, não fazem para vender” . 

Há também os artefatos que eram produzidos para serem utilizados em seus rituais e cantos sagrados, mas que hoje também são produzidos e comercializados como forma de renda para as famílias nas comunidades, a exemplo  Eliana nos conta sobre os Petynguá (cachimbo) que é utilizado pelos Guaranis como forma de conexão com Nhanderu (Deus) usado nos rituais sagrados e o Maraca também utilizados em rituais e nos cantos Guaranis “os Petynguá que é feito de raiz de pinha mesmo, que eles falam que é difícil de tirar, eles cavavam ao redor do pé da pinha pra tirar umas de formato de bola que ficava na raiz da pinha pra fazer o Petynguá”, “Tinha o maracá que também a gente vende, mas o maraca é sagrado também, como o Pentynguá,  o maracá é usado para cantos e  danças

Cartaz do II Encontro Nacional de Mulheres Guarani

Já o cesto é comum entre as mulheres Guarani mais velhas produzirem e antes de sua comercialização Eliana nos fala que “o cesto era mais usado para colocar alimentos, a caça e também para colocar os bebês nas costas pra levar onde plantavam coisas e as mulheres trabalhavam com o cesto atrás e o bebe dentro. Eu ouvi muitas histórias falando sobre isso”. Além disso, o bichinho de madeira “que era feito para as crianças brincar, em formato de bichinhos para que os menininhos já conhecessem o que era pra comer e o que não era pra comer.”

Diante da fala da liderança Eliana Macena, podemos entender a importância de se passar o conhecimento e as técnicas para a produção dos artesanatos, pois através deles mantém-se viva a memórias dos ancestrais possibilitando o fortalecimento espiritual, bem como a vivacidade de sua cultura ao transmitir os saberes aos mais jovens, além de também servir como fonte de renda para a comunidade com a sua comercialização.

Quando adquirimos um artesanato produzido por artesãos Guaranis, não estamos apenas comprando um produto, mas estamos adquirindo também toda uma história por trás dessa confecção, cada peça produzida por mãos indígenas são únicas e carregam todo um saber ancestral, passado entre as gerações. Por isso valorizar os artesanatos Guaranis, além da geração de renda, é também apoiar e garantir meios com que a cultura se mantenha viva, garantindo o futuro das famílias e das próximas gerações

Transcrição dos áudios da Eliana

Então…Tava revendo os vídeos ne?. Vou falar as coisas importantes que nossas xejary falaram no encontro e a parte mais importante que achei foi que alguns artesanatos que hoje em dia não é mais reproduzido, tipo o pratinho que era usado antigamente era de cabaça, cortado ao meio e era também usado para tomar água ou trazer água e a esteira  também que hoje em dia não é mais feito, só tem alguns, xejary que ainda fazem, mas, não fazem para vender. Ai a esteira era usada pra colocar os alimentos pra que a comunidade comesse e era usada também pra dormir e colocar os bebês para dormir também. Ai era feita uma rede também para os bebês dormir que era feito de bambu, até essa coisas eu tbm não sabia porque eu não vi essa coisas na minha infância, aí porque na minha infância já era mais moderno, tinha coberta, essas coisas, mas antigamente mesmo não usava nem coberta nem nada, só a esteira que era feito de folha de palmeira e também tinha as armadilhas que eram feita de bambu que era pra pegar peixe que hoje em dia também a gente não vê mais feito, mas tem alguns lugares que ainda fazem, mas é difícil  de a gente ver aqui.

 O petyngua era feito, todos faziam, mas hoje em dia também os homens mais jovens não sabem mais fazer o petyngua, cachimbo, porque só lá no Paraná que eu vi que ainda fazem, que trouxeram de lá os petyngua que é feito de raiz de pinha mesmo, que eles falam que é difícil de tirar, eles cavavam ao redor do pé da pinha pra tirar umas de formato de bola que ficava na raiz da pinha pra fazer o petyngua. E o cesto também hoje em dia até eu mesma não consigo fazer, mas vejo minha avó fazendo, minha mãe fazendo e o cesto era mais usado para colocar alimentos, a caça, e tbm para colocar os bebês nas costas pra levar onde plantavam coisas, e as mulheres trabalhavam com o cesto atrás e o bebe dentro. Eu ouvi muitas histórias falando sobre isso. A missanga, que hoje em dia que a gente faz mais coisas de missanga não é nossa. A gente aprendeu a fazer as coisas com a missanga através da internet e tbm outras etnias que aprenderam a fazer pulseira, brinco, colares, bracelete. Essas coisas de missanga. Os mais velhos já não sabem fazer, o que eles fazem mesmo são coisas que eles aprenderam desde adolescente. O bichinho de madeira que era feito para as crianças brincar, em formato de bichinhos para que os menininhos já conhecessem o que era pra comer e o que não era pra comer.

Tinha o leque tbm que era feito de taquara tbm, que era pra acender a fogueira, era pra abanar os alimentos para as moscas não descerem. Os colares de sementes eram usados para festas, cerimônias, que os homens usavam ao redor do corpo. Tinha o maracá que tbm a gente vende, mas, o maraca é sagrado tbm, como o petyngua,  o maracá é usado para cânticos, danças. Agora tem tbm o que a gente fala que não fabrica nosso próprio violão, nosso próprio violino, que era feito de madeira com linha que era achado no mato, mas, era pelo de animal para fazer a linha do violino. E através disso, eu escutei muito no encontro das mulheres sobre o artesanato, por que o nosso artesanato para o mundo do Branco não tem valor, mas para nós tem vários significados Vários valores vários utilidades que a gente faz com o nosso artesanato,  os meninos usavam também antigamente que os mais velhos faziam era o Tukumbó,  é uma corda que fica no Pedaço de Pau que os mais velhos cortavam e colocavam as cordinhas feito de Imbirá, que eu não sei o nome em português tem que perguntar para minha avó, mas a gente chama de Imbira e os meninos usavam para tratar de umas 6 horas ou quando chover com trovões e trovoadas, para que o nosso tupã tbm  escute que a gente está com eles né, aí os meninos faziam o tukumbó girar e batendo no chão e fazer os som de trovão mesmo 

Aí tinha o de outra utilidade que era bolsinha né que colocava os alimentos também, existia só para os homens que era feito de pele de animal né, que as mulheres costuravam com com Ibirá também, aí o artesanato também tem o desenho né que eu já falei que é é inspirado no desenho da das cobras, dos Lagartos também que tem desenho interessante da natureza mesmo, às vezes as pessoas perguntam se a gente copia de algum lugar, mas não é copiado, é da natureza o desenho o significado, cada cobra tinha o seu significado nos desenhos qual era o mais venenoso, qual é que ataca mais, qual que é tem veneno mas não ataca, isso tudo é de pura importância que as pessoas saibam que o nosso artesanato é sagrado para todos nós

Link Matéria Guarani Yvyrupa Nessa terça-feira (25), a força e… – Comissão Guarani Yvyrupa – CGY | Facebook

Site da COMISSÃO GUARANI YVYRUPA -CGY https://web.archive.org/web/20211223034943/http://www.yvyrupa.org.br/

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Share on facebook
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on telegram